Fernando Jacintho de Vargas


Por Adilson Braga Fontes
Contato: abrafo@gmail.com

Uma história contada pelos mais velhos da família de minha esposa dizia que alguns antepassados estavam em um naufrágio ocorrido na Baia de Guanabara, com uma embarcação que fazia a travessia entre o Rio de Janeiro e a cidade dos antepassados de minhas filhas, Niterói. A tal história foi emocionantemente confirmada por meio de jornais da época, inclusive com um tetravô de minhas filhas figurando como um dos personagens de destaque no ocorrido.
A história se deu da seguinte maneira:
Em 6 janeiro de 1895, às 19:20, uma das barcas que fazia a travessia Rio de Janeiro-Niterói, pela Baia de Guanabara pegou fogo, tomando toda a embarcação, causando uma grande tragédia que vitimou mais de cento e cinquenta passageiros, carbonizados ou afogados. Fernando Jacintho de Vargas (tetravô de minhas filhas), sua esposa e filhos estavam na barca, na fatídica data. Ele foi um dos sobreviventes e contou o ocorrido, sendo uma das testemunhas no inquérito que investigou o caso do incêndio na Barca Terceira.
Em entrevista ao jornalista Olavo Guerra, do periódico “Fluminense”, Fernando:
"...disse ter, logo que principiou o incêndio, levado sua família para um dos bordos da proa da barca assassina.

Aí assistiu a cenas horrorosas: náufragos que lutavam, mãos que, morrendo levantavam  nos braços filhinhos prestes a morrer.
Com medo de que ao atirar-se na água alguma das vítimas o agarrasse, tirando com sua morte o meio de salvação da sua família, ficou até a última hora na barca, quase toda incendiada.
Que só desceu sua família para o mar, quando já não via ninguém à tona d’água e quando já não podia estar na barca, que se transformara num braseiro vivo.
Desceu uma corrente, onde agarrou-se com sua mulher, que tinha um filho (João) de ano e meio nos braços e uma prima, estando todos três queimados pelo vapor que se escapava pelo casco da barca.
De repente sentiu-se agarrado e foi para o fundo, tendo aí que lutar com um indivíduo corpulento que nas vagas da agonia tinha uma força hercúlea.
A muito custo conseguiu desvencilhar-se do seu contendor, que pareceu afogado.
Morreu-lhe um filhinho de cinco anos durante o tempo que lutava no fundo do oceano.
Disse ainda, com lágrimas nos olhos: quando mandava que meu filhinho que morreu se atirasse à água, ele respondia: - Não pulo, papai, tenho medo de morrer!
Afirmou que o mestre Vital, da barca naufragada, foi um dos últimos a abandonar o seu posto." (Rio de Janeiro, Diário de Notícias, 1895, p. 1)
O naufrágio e a perda de frágeis crianças deixaram marcas nas lembranças dos familiares que perduram até os dias atuais.
Fernando, um niteroiense nascido em 1866, filho de Açorianos da ilha do Faial (Antonio Jacintho de Vargas e Quitéria Jacintha de Oliveira), que haviam imigrado para o Rio de Janeiro em 1860, era casado com Francisca Tereza de Alcântara. Dentre seus filhos sobreviventes ao acidente com a barca, estava Bernardino Fernandes Vargas, que foi pai de Heitor Fernandes Vargas, avô paterno de minha esposa.






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