Jorge Guilherme Gomes (avô), Augusto Escopelli Gomes (pai) e Plínio Escopelli Gomes (filho)


Por Adilson Braga Fontes
Contato:abrafo@gmail.com


Jorge Guilherme Gomes foi um dos pioneiros no desbravamento do território guanduense. Jorge era natural de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro, nascido em 1834. Foi casado com Maria Luiza Gomes, também natural daquele município, filha de Antônio Tomás Monteiro.
A família se transferiu para Afonso Cláudio por volta de 1864, quando Jorge foi nomeado delegado de captura da mata no Espírito Santo, por D. Pedro II.
O objetivo maior de sua ida para Afonso Cláudio foi "capturar 'recrutas' para a Guerra do Paraguai, devido às dificuldades que o Imperador estava tendo para arrumar homens [...]" dispostos a enfrentar tal desafio.
Quando terminou a Guerra do Paraguai, em 1867, retornou a Vassouras. Em 1877, vinha novamente para Afonso Cláudio juntamente com outros imigrantes do Estado do Rio de Janeiro, incluídos nesta lista, seu irmão Francisco Gomes e o Barão do Bananal (Luis da Rocha Miranda Sobrinho).
Um trabalho inédito de Plínio Escopelli Gomes, escrito em 1967 (apud Vieira, 2009, p. 19), relata a chegada de seus familiares e outros à região do Guandu:
“Por volta de 1850, chegaram os primeiros desbravadores. Um desses desbravadores foi Jorge Guilherme Gomes, que havia sido ‘nomeado delegado da captura da mata, aqui no Espírito Santo, por D. Pedro II, para capturar recrutas para a guerra do Paraguai, devido as dificuldades que o Imperador estava enfrentando para arrumar homens. Então, ele seguiu juntamente com o irmão, Francisco Gomes, Agostinho Gonçalves Bairral, o Barão de Bananal (Luiz da Rocha Miranda) e outros em direção à Serra do Alambique’. Descendo, encontrou a 1ª posse de Joaquim Barros, o vulgo Barro Preto, que tinha apossado desse ribeirão e deu o nome de Guandu, porque havia muito feijão 'guandu', as margens, cultivado pelos índios.”
Sobre a história do nome do rio existe outra versão que conta que certo explorador tinha um cão de estimação de nome ‘Guandu’ e este, quando explorando as cabeceiras do rio e suas matas perdeu-se do cão, não mais o encontrando, denominando o local do sumiço do animal de ‘Guandu’.
Continuando... Segundo Gomes (apud Vieira, 2009, p. 19):
"Descendo encontraram outro ribeirão, que deram o nome de Boa Sorte, que foi apossado pela família dos Inácios.
Mais abaixo até a Cachoeira Bonita, que foi apossada pela família Fagundes,desordeiro do Estado do Rio de Janeiro. Mais abaixo encontraram a Barra do Rio do Peixe e Rio Guandu, posse de João Manoel Fernandes, essa posse fazendo divisa com o Sr. José de Almeida, por ser dono do Rio da Cobra, com seus afluentes e uma parte da Fortaleza, adquiriu os direitos dessa posse do Sr. David Damazio, delinqüente do Estado de Minas Gerais, do lugar de nome 'Divino do Carangola'.
Descendo mais, fomos direto aos Três Pontões. Encontramos o grande posseiro Sabino Coimbra de Oliveira, abaixo nesse Ribeirão, encontramos o posseiro Inácio da Fonseca Lamas (Acredito que o autor tenha se confundido, dando ao pai o nome dos filhos. Seria este o meu trisavô Ignácio Gonçalves Lamas, pai de Idolino da Fonseca Lamas, entre outros, também tratados neste blog). E a margem esquerda, até a foz, foi apossada pelo Sr. Gabriel uma sesmaria de terra.
Tomou posse da margem direita Gabriel e da esquerda Sr. Felício Pereira de Souza. Seguindo, encontramos outro Ribeirão, com o nome "Lagoa", cujo posseiro, era o Capitão Lúcio. Abaixo, a família dos Abreu e Bazílio (Manoel Basílio de Souza e Querubina Maria de Souza), eu, Plínio Escopelli Gomes (aqui o autor poderia estar falando do pai, Augusto Escopelli Gomes e não do filho Plínio, nascido em 1884, não tenho certeza) então apossei do Ribeirão do Empoçadinho. A Barra do Lagoal foi apossada pelo meu companheiro Agostinho Gonçalves Bairral e o Barão do Bananal apoderou-se da Grande Cachoeira do Rio Guandu, deixando dois escravos tomando conta desta posse: José Cambuquira e Joaquim Cambuquira, fazendo a doação de 6 alqueires de terras, para o Patrimônio, dando o nome de São Luís de Miranda. Dividindo com a Posse do Barão do Bananal, no Ribeirão de nome Timbulva, tomando posse meu irmão Francisco Gomes (neste caso o irmão em questão não seria Plínio, que em tese narra a saga, mas seu avô Jorge Guilherme), deixando uma grande posse em São Paulo, da nascente até a posse, com todos os afluentes do Rio Dourado. Refugiou-se aqui nessa posse, com dois escravos que eram: Risoleta e Orestes.
Essa escrava deu á luz a dois filhos de Francisco Gomes: Satilho e Nestor. Ele, Francisco, era casado em Vassouras, mas, sendo sua espôsa leviana, refugiou-se aqui na mata.
Anos depois, apareceram emissários procurando terra para comprar. Então, ele passou uma procuração a Eduardo Olimpio dos Santos (Seria este o esposo de Maria Augusta de Abreu, pai de Zilda dos Santos, esposa de José Rodrigues Fontes, primo de meu pai, também com geração tratada neste blog). Chegando este Senhor a São Paulo, montou um escritório com 2 advogados: Plínio Godói e Cantilho do Monte. Entraram em grandes negociações. Morrendo Eduardo e o velho Francisco Escopelli Gomes, ninguém ficou sabendo como ficou o resto da herança.
Regressando o vovô (Jorge Guilherme Gomes), com seus amigos, levando diversos prisioneiros, recrutas para a guerra, deu cumprimento de seu compromisso ao Imperador. Voltando para sua posse no Empoçadinho, com sua família. Casou-se em Itabapoana com D. Maria Luiza, filha de Antônio Tomás Monteiro, sendo que, nesta viagem veio: sogro, sogra, cunhado. Chegando na sua posse desceram até a Foz do Ribeirão, tomando posse, deram o nome de Bom Jesus, com doação de 06 alqueires de terras para o Patrimônio deste mesmo nome.
Terminando a Guerra do Paraguai em 1867, ele voltou, talvez à cidade de Vassouras. Em 1877 veio a nova caravana, guiada por mim, Plínio Gomes (neste caso a confusão por parte do autor entre pai e filho é notória, pois Plinio nasceria em 1884, o provável é que faça referência a Augusto Escopelli Gomes), Antonio Rosa, Francisco Rosa, Família dos Lessas, Família dos Fernandes, Rogério, Calistrim, Certório, Filício, todos acompanhavam a caravana.
Antônio associou-se com duas sesmarias de terra em Cinco Pontões. Os Fernandes apossaram com grande parte. Leopoldino e Fernandes, vulgo Guerra, deu posse do Patrimônio de Laranja da Terra (São João). Outro que veio foi Domingos Campos, que apossou-se do Picadão, dividindo com os Fernandes.
Na 3ª caravana vieram os Leites, Padre Marcelino, Mariano Evangelista da Costa, que compraram os direitos dos posseiros de Lagoa, onde tem hoje o Patrimônio de São Geraldo. Padre Marcelino comprou a posse do Vovô (Jorge Guilherme Gomes), que colocou os Lessas também. Mudando para a Cachoeira Bonita, adquiriu uma parte de terra, aí estabeleceu sua moradia.
Depois começaram um Patrimônio no Ribeirão dos Três Pontões. Notando que a água era pequena e podia secar mudaram para a Barra do Ribeirão, que pertencia ao Gabriel. Este deu 5 alqueires de terras para o Patrimônio. Com a transferência o Ribeirão recebeu o nome de Arrependido.”
Decorridos 3 anos do retorno de Jorge Guilherme Gomes ao município, aos 46 anos, era assassinado. O caso é relatado por um periódico de Vitória da época. Segundo “O Horisonte”, de 1º de fevereiro de 1884,
"no dia 28 de maio foi assassinado no districto de Alto Guandu o respectivo subdelegado de polícia, Jorge Guilherme Gomes recebendo um tiro que foi desfechado de emboscada.
Conta-se que pelo facto de ter sido Jorge nomeado subdelegado, levantara isto algum clamor n’aquelle districto e recebeu elle até avisos de que seria assassinado se aceitasse a nomeação.
Em 1º de julho seguiu desta capital para aquelle ponto o chefe de polícia dr. Antonio Ferreira de Souza Pitanga, e chegando ao distrito do limoeiro, alli procedeu o inquérito sobre o homicídio perpetrado na pessoa d’aquelle subdelegado, cujo inquérito já havia sido iniciado pelo subdelegado em exercício, o alferes de 1ª linha, Antonio Nunes de Salles, e que o mesmo chefe de polícia o evocara a sua jurisdição procedendo das mais enérgicas e escrupulosas indagações para conhecimento da verdade, e punição dos culpados, do que resultou a suspeita do crime dado, contra Joaquim José Fagundes e sua amasia Maria Leite de Jesus, como mandantes, e contra João José Ivo de Mattos, vulgo apaga-fogo; como mandatário.
Forão recolhidos a prisão os referidos indivíduos criminosos, e remettido ao inquérito ao Dr. Juiz Municipal do Termo para ulterior procedimento.”
O mesmo “O Horisonte”, com publicação do ano anterior, de 7 de agosto de 1883, relato o assassinato de Jorge Guilherme com muitos detalhes, inclusive levantando outras supostas motivações para o crime, além das já mencionadas:
“As seis horas da manha mais ou menos o assassinado vindo de sua casa para a de Joaquim Fagundes, puchando um cavallo ensilhado para mulher, recebeu uma bala que penetrou-lhe no alto da caixa thoracica, e sahio no músculo exterior do ante-braço direito, cahindo morto cerca de sessenta passos adiante do lugar d'onde partira o tiro, isto é, de uma emboscada entre a casa do assassinado e a de Joaquim Fagundes. Um indivíduo de nome Francisco Ozorio, encontrando o cadáver voltou a casa do mesmo Fagundes que ahi reside com sua amasia Maria Leite, e esta ao receber a noticia exclamou que era Jorge e compareceu com Joaquim Fagundes ao lugar da emboscada, dizendo Fagundes que áquella morte fora commettida por Prudencio Gomes de Lima, para vingar-se de um corpo de delicto que Jorge fizera em uns bois ha mais de um anno tendo sido o tiro dado com uma espingarda Lafourchér,o que verificou-se não ser exacto, por se ter encontrado as buchas. Sendo notório que Jorge tinha relações illicitas com a referida Maria Leite, amasia de Fagundes, com a qual gastava tudo quanto tinha, resultando de diversos depoimentos que Jacintho Leonardo de Sousa, que trabalhava em um moinho de Fagundes, deixara o trabalho incompleto e na véspera do crime fora para a casa de Jorge sob o pretexto de ajudar a colher milho e só comparecendo ao trabalho a hora em que o crime já deveria estar cousummado, d'ahi sahio fazendo declarações que sabia quem erão os authores do crime, e que se ia embora para não ser assassinado, mas que publicaria pela imprensa, e dias depois retirou-se para Santo Antônio de Itabapoana em um cavallo que comprou Joaquim Fagundes a Rodrigo Coelho d’Oliveira, inferindo-se de todo o inquérito que assim Joaquim Fagundes como Maria Leite são avesados ao crime; e resultando de diversas outras circumstancias [veheraenzes] indícios de terem sido mandantes do crime, Joaquim José Fagundes e sua amasia Maria Leite de Jesus, e mandatário o carpinteiro,Jacintho Leonardo de Souza...”
Passados 32 dias do sepultamento chegavam à cidade 35 praças do Império, com a determinação de D. Pedro II para que fizessem a exumação do cadáver e que o levassem para ser sepultado na cidade de Vassouras, RJ. Foi a 1ª exumação que se tem conhecimento realizada no Espírito Santo. Outra atribuição dos praças era de encontrar os assassinos, que nos parece não ter sido necessária, pois o jornal o Horisonte atribui a prisão dos criminosos à polícia de Vitória.
A família do Jorge era muito numerosa e serão destacados apenas dois nomes que tiveram muita influência no desbravamento e crescimento do município: Seu filho Augusto Escopelli Gomes e o neto Plínio Escopelli Gomes.
Augusto Gomes casou-se com uma das filhas do Sr. Antônio Cândido de Almeida Rosa, no ano de 1855 (certamente ainda em Vassouras, pois as duas famílias são oriundas daquele lugar). Esse matrimônio gerou 12 filhos, sendo o mais velho o Sr. Plínio Escopelli Gomes.
O local onde está edificado o ginásio pertenceu a Augusto.
Em 1889, Augusto militava na vida política de Afonso Cláudio, tendo participado ativamente do movimento de Proclamação da República, ao lado do seu sogro Antônio Cândido, e de Adolpho Rodrigues Gomes, Ramiro de Barros da Conceição e Eugênio de Mattos.
Fez parte do grupo de 18 homens que se dirigiu em direção à capital do Estado para prestigiar a posse do Republicano Afonso Cláudio, ocasião em que, ao chegarem em Santa Joana (atual Itarana), foram recebidos por violenta fuzilaria, onde houve mortos e feridos.
Por este ato de bravura, em 19/03/1897 foi nomeado Tenente Coronel da Guarda Nacional juntamente com seu sogro.
No período de 1892 a 1894, a política local passou a ser coordenada por José Cupertino, Cel. Adolpho Rodrigues Gomes, Augusto Escopelli Gomes e o Pe. Leduc. Esse domínio durou até 1910, período no qual Augusto, além de chefe político, foi guarda livros, promotor interino, advogado e, por último, Secretário da Câmara Municipal, Agente dos Correios e Professor. Em 16 de novembro de 1910, faleceu.
Ficava o seu filho mais velho, Plínio, com a tarefa de ocupar os espaços do avô e pai, respectivamente, Jorge Guilherme e Augusto.
Plínio nasceu no dia 16 de novembro de 1885 e foi criado pelo seu avô Antonio Rosa.
Em 1902, foi sacristão do Padre Leduc e, durante os anos de 1903 e 1904, foi auxiliar de agrimensor.
A partir de 1908, junto com outros amigos (Antônio Salles, Laurentino e Custódio Dias) entrou no ramo de construções, fossem casas, pontes ou outros serviços.
Participou da construção do Palácio Municipal durante toda a execução da obras (1912 a 1917).
Em 1916, foi Delegado de Polícia. Em 1920, foi eleito vereador. No período de 1930 a 1945, foi alijado da área política.
Em 1954, construiu a ponte do ginásio, juntamente com seu irmão Álvaro Gomes e o seu filho João.
Foi casado com Adélia Maria Serpa Silva, filha de João Silva e Custódia Serpa, neta materna do português Antonio Gonçalves Serpa e Ana Maria do Coração de Jesus, com quem teve os seguintes filhos: Augusto Escopelli Gomes, Asdrubal Escopelli Gomes, Ilson Escopelli Gomes, Edith Gomes e Judith Gomes (viva).
Após ficar viúvo casou-se novamente com Maria Rodrigues Gomes, com teve os seguintes filhos: José Gomes (natimorto), Maria Lúcia Gomes (natimorta), Maria da Glória Gomes (falecida aos 9 anos de idade), João Geraldo Gomes (vivo), Maria Naiva Gomes (viva), Maria Lilia Gomes, Aguilar Escopelli Gomes (vivo), Maria Elizete Gomes (viva), Nilson Escopelli Gomes (vivo) e Gilberto Gomes (vivo).
Plínio faleceu em Afonso Cláudio, aos 83 anos, em 29 de novembro de 1978.
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Fontes:

GOMES, Maria Elizete. Disponível em: https://www.facebook.com/mariaelizete.escopelligomes
O Horisonte. Victória, 7 de agosto de 1883, anno IV, n. 85.
O Horisonte. Victória, 1 de fevereiro de 1884, anno V, n. 10.
VIEIRA, José Eugênio. Afonso Cláudio: cronologia de sua história política, administrativa e cultural. Vitória, 2009. p. 19-21, 654.