sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Amylton Dias de Almeida


Por Adilson Braga Fontes


Amylton era filho de Átila Dias de Almeida e Yracy Neto Prudêncio, foi criado pelo avô paterno em Vitoria, pois sua mãe o abandonara aos dois anos de idade. Nasceu em Afonso Cláudio, em 21 de março de 1946, e faleceu em Vitória, em 11 de outubro de 1995.
Sua carreira teve início aos 17 anos, quando em 1963 foi para o Rio de Janeiro, onde teve os primeiros contatos com o mundo artístico. Retornando ao Espírito Santo, trabalhou na redação dos principais jornais da capital. A partir da metade da década de 1970 iniciou suas atividades na televisão e no cinema.
Era um ativista cultural e atuou como jornalista, escritor, dramaturgo, documentarista, trabalhou na televisão, crítico de cinema, cineasta, romancista e videomaker. No decorrer das décadas de 1960, 1970 e 1980 participou do cenário artístico-cultural capixaba tendo integrado, por dois mandatos, o Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo. 
Costumava assinar seus textos como "A.A.".
Destacou-se pela excelência crítica cinematográfica, publicada durante vinte e três anos no Caderno Dois, do Jornal A Gazeta. Revelou-se um intelectual combativo, engajando-se em diversas causas. Dono de um estilo personalíssimo, irônico e mordaz, Amylton de Almeida estruturou um acervo audiovisual que revela diversas peculiaridades sobre o Estado. Libertário, independente, criativo, ousado e irreverente, Almeida revelou talentos na literatura, na música e na produção audiovisual capixaba. Recebeu premiações por seu trabalho em todo país.
Entre suas obras, destacam-se os romances: Passagem do século (1977), Blissful agony (1988) e Autobiografia de Hermínia Maria (1994); biografia: Carlos Lindeberg: um estadista e seu tempo (2010 - póstuma); as peças teatrais: As noites das longas facas, Segunda parte e a comédia Tem xiririca na bixanxa, com autoria de Milson Henriques e colaboração de Marcos Alencar. Deixou inédita a peça Respire fundo. Prenda o ar. Solte. Seu vídeo mais conhecido é Lugar de toda pobreza (1983). Ao falecer, deixou pronto, como diretor e roteirista, o filme O amor está no ar, de 1995, o primeiro longa-metragem do Espírito Santo. 
A seguir, um pouco de sua obra:
"Este é o instante em que Vitória perde todas as suas características. Observe o menino de lábios abertos. Este é o instante em que o ramo de flores cai aos pés, enquanto a lua continua se movendo e o vento espalha o cheiro de manacá pela cidade. Este é o instante em que a Praça Costa Pereira se encontra deserta para sempre. Longe, muito longe daqui o vento sopra. Este é o instante em que chove. Observe. Este é o instante em que o menino, de cabeça levemente tendendo para o lado do ombro direito, de olhos fundos e secos, tenta sorrir. Observe o olhar. Este é o instante em que se encaram. Este é o instante em que o vento abre as portas e as janelas da casa e bate a pitangueira de encontro ao portão. Observe. Este é o instante de madrugada para sempre." (Blissful agony, p. 63)

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"Por opção ou por condescendência, ele era amplo; a vida o atingia em milhares de detalhes; não escolhia, discernia aceitava tudo, desde que, juntando-se, esses detalhes o impelissem para alguma coisa muito forte que fizesse sentido. Nunca fazia: ele não cabia no mundo. Porque — sabia-o — possuía uma força desconhecida que não poderia nunca ser exposta através de palavras ou explicada através de imagens. Alguma coisa que o sustentava sob duas pernas. Claro, era atingido também por algumas premonições sobre o futuro. Começava sempre com a sensação de que já vivera tudo isso. Em seguida, erguendo a cabeça, para olhar estrelas, atingindo uma tristeza tão grande que adivinhava o pânico sugerido pela densidade do que acontecia agora." (A passagem do século, p. 76)

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"Eles não tinham qualquer tendência à disciplina. Eram simplesmente duas pessoas influenciadas pelo reino fantástico da desordem. Em dias de chuva e vento frio, permaneciam horas, sentados na cama, ouvindo discos, lendo, ouvindo a chuva batendo na janela, o vento levantando as cortinas, pensando sobre os mais significativos momentos e os mais bobos, além de frases ditas pela vida afora ou então encostando o nariz à janela, escrevendo 'eu te amo', em homenagem a pessoa alguma, no vidro úmido. Também em horas como estas, percebiam que a língua havia sido abolida em favor de gestos e atos, altruístas e infelizes implicitamente. Eles haviam nascido apenas para ocupar lugar, espaço e tempo ou então viver tantos anos de vida. E isto era tudo." (Autobiografia de Hermínia Maria, p. 179)

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"(...) de repente, sob a luz do fim do dia (entre violáceo e dourado) uma pessoa descobre no outono de Vitória que não existe passado, presente, futuro, outono, primavera. De repente, uma pessoa descobre que é eterna e que — portanto — aceitasse morrer sem constrangimento ou revoltas. De repente, uma pessoa aceita, de olhos fundos e secos. E esta será sempre a expressão que apresentará às exigências, acusações, crueldades e impasses de sua vida: o profundo espanto pelo fato de encontrar-se vivo para sempre." (A passagem do século, p. 58)


Bibliografias

GOMES, Deny. Morro do Moreno: Amylton de Almeida. Disponível em: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/amylton-de-almeida-por-deny-gomes.html. Acesso em: 27 dez. 2019.

NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimento de 90 cineastas. São Paulo, Editora 34, 2002.

SEIDEL, Mônica. Cena Vitória: Amylton de Almeida. Disponível em: http://cenavitoria.blogspot.com/p/e-por-falar-em-saudade.html. Acesso em: 27 dez. 2019.


José Francisco Rosa (Zé Pernambuco)

    José Francisco Rosa era filho de Francisco João da Rosa e Maria da Penha Rosa, o 4º entre os 9 filhos do casal, nasceu no dia 23 de janeiro de 1924, na localidade de Infância, interior de Afonso Cláudio, ES. Ficou órfão paterno muito cedo, foi necessário que ele desenvolvesse suas habilidades para o trabalho, pois precisava ajudar sua mãe na criação dos irmãos.

    Corajoso e determinado, em 1942, com 18 anos de idade se alistou no exército e se ofereceu para servir e combater o inimigo na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
    Sendo aceito, pegou sua pequena mala com seus pertences e partiu rumo a Vila Velha, ES, para os treinamentos rígidos impostos pelos superiores, porém, com orgulho e com a certeza de estar fazendo a coisa certa para defender com dignidade sua pátria e ajudar a construir um Brasil melhor.
    Após anos de treinamentos e pronto para embarcar para Europa para fazer parte do grupo da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que se encontrava na Itália, não foi preciso, pois ao se preparar para a viagem, os países aliados ao Brasil, renderam os inimigos no Monte Castelo (Itália), no dia 21 de fevereiro de 1945, colocando assim, fim à terrível Segunda Guerra Mundial.
    Em 29 de setembro de 1948, José Pernambuco casou-se com Sebastiana Braga Lamas (filha de José Henrique Pedro e Aurora Braga Lamas), um relacionamento que durou 57 anos e gerou 11 filhos, muitos ainda vivos.
    Destinou 40 anos de sua vida à comunidade de São Vicente do Firme, ali, com muita dificuldade e perseverança, criou seus filhos e ajudou o próximo.
    Sua casa sempre tinha as portas abertas para quem solicitasse, estava sempre pronto para auxiliar aos necessitados. Por muitas vezes, à noite, se levantou da cama para socorrer as pessoas que ficavam pela estrada que liga Afonso Cláudio ao município de Brejetuba; com carros atolados no rio, carros quebrados (uma junta de boi ficava sempre nas proximidades do rio para fazer o trabalho de resgate), oferecendo a estes, descanso e comida, se desejassem.
    José Pernambuco ensinou que “devemos ajudar sempre sem olhar a quem”. Ensinou que “o trabalho dignifica o homem”. Ensinou também que “tudo posso naquele que me fortalece". Sua vida, além de ter sido para o trabalho e para a família, também foi destinada ao “Deus Vivo”, como ele se referia.
    No fatídico dia 15 de maio de 2005, sua esposa veio a falecer, a tristeza o dominou, sentimento que o levou a não querer mais viver. Deus atendeu o seu pedido e o levou no dia 21 de novembro de 2006, deixando seus filhos com saudades eternas. José Pernambuco se foi, mas deixou aos seus descendentes o seu bem maior, o conhecimento e a sabedoria acumulados em anos de experiência como grande líder.
    Em 2012, os moradores do município de Afonso Cláudio, Estado do Espírito Santo, solicitaram ao Poder Legislativo Municipal, por meio de abaixo assinado, por intermédio do Vereador Nilton Luciano de Oliveira, a denominação da Estrada Rural, que liga Afonso Cláudio, ES à Brejetuba, ES, de “José Francisco Rosa", vulgo José Pernambuco.
    José Pernambuco era filiado ao PDT desde 1987.
    Alguns dos filhos de Zé Pernambuco e Sebastiana foram: Almir Braga Rosa – Almir Pernambuco – (ex-deputado estadual e ex-vice-prefeito de Afonso Cláudio); José Braga Rosa (falecido em 2018); Ivone Braga Rosa, Ivaldo Braga Rosa, Rosangela Braga Rosa, Maria da Penha Rosa, Aurora Braga Rosa


Fonte: CÂMARA Municipal de Afonso Cláudio. 6 jun. 2012. Disponível em: http://www3.cmac.es.gov.br/Arquivo/Documents/MIG/IND562012.pdf. Acesso em: 4 jul. 2019.