Por Adilson Braga Fontes
Amylton era filho de
Átila Dias de Almeida e Yracy Neto Prudêncio, foi criado pelo avô paterno em
Vitoria, pois sua mãe o abandonara aos dois anos de idade. Nasceu em Afonso
Cláudio, em 21 de março de 1946, e faleceu em Vitória, em 11 de outubro de
1995.

Costumava assinar
seus textos como "A.A.".
Destacou-se pela
excelência crítica cinematográfica, publicada durante vinte e três anos
no Caderno Dois, do Jornal A Gazeta. Revelou-se um intelectual
combativo, engajando-se em diversas causas. Dono de um estilo personalíssimo,
irônico e mordaz, Amylton de Almeida estruturou um acervo audiovisual que
revela diversas peculiaridades sobre o Estado. Libertário, independente,
criativo, ousado e irreverente, Almeida revelou talentos na literatura, na
música e na produção audiovisual capixaba. Recebeu premiações por seu trabalho
em todo país.
Entre suas obras,
destacam-se os romances: Passagem do século (1977), Blissful agony
(1988) e Autobiografia de Hermínia Maria (1994); biografia: Carlos
Lindeberg: um estadista e seu tempo (2010 - póstuma); as peças teatrais: As
noites das longas facas, Segunda parte e a comédia Tem xiririca
na bixanxa, com autoria de Milson Henriques e colaboração de Marcos
Alencar. Deixou inédita a peça Respire fundo. Prenda o ar. Solte. Seu
vídeo mais conhecido é Lugar de toda pobreza (1983). Ao falecer, deixou
pronto, como diretor e roteirista, o filme O amor está no ar, de 1995, o primeiro longa-metragem
do Espírito Santo.
A seguir, um pouco
de sua obra:
"Este é o
instante em que Vitória perde todas as suas características. Observe o menino
de lábios abertos. Este é o instante em que o ramo de flores cai aos pés,
enquanto a lua continua se movendo e o vento espalha o cheiro de manacá pela
cidade. Este é o instante em que a Praça Costa Pereira se encontra deserta para
sempre. Longe, muito longe daqui o vento sopra. Este é o instante em que chove.
Observe. Este é o instante em que o menino, de cabeça levemente tendendo para o
lado do ombro direito, de olhos fundos e secos, tenta sorrir. Observe o olhar.
Este é o instante em que se encaram. Este é o instante em que o vento abre as
portas e as janelas da casa e bate a pitangueira de encontro ao portão.
Observe. Este é o instante de madrugada para sempre." (Blissful agony, p.
63)
* * *
"Por opção ou
por condescendência, ele era amplo; a vida o atingia em milhares de detalhes;
não escolhia, discernia aceitava tudo, desde que, juntando-se, esses detalhes o
impelissem para alguma coisa muito forte que fizesse sentido. Nunca fazia: ele
não cabia no mundo. Porque — sabia-o — possuía uma força desconhecida que não
poderia nunca ser exposta através de palavras ou explicada através de imagens.
Alguma coisa que o sustentava sob duas pernas. Claro, era atingido também por
algumas premonições sobre o futuro. Começava sempre com a sensação de que já vivera
tudo isso. Em seguida, erguendo a cabeça, para olhar estrelas, atingindo uma
tristeza tão grande que adivinhava o pânico sugerido pela densidade do que
acontecia agora." (A passagem do século, p. 76)
* * *
"Eles não
tinham qualquer tendência à disciplina. Eram simplesmente duas pessoas
influenciadas pelo reino fantástico da desordem. Em dias de chuva e vento frio,
permaneciam horas, sentados na cama, ouvindo discos, lendo, ouvindo a chuva
batendo na janela, o vento levantando as cortinas, pensando sobre os mais
significativos momentos e os mais bobos, além de frases ditas pela vida afora
ou então encostando o nariz à janela, escrevendo 'eu te amo', em homenagem a
pessoa alguma, no vidro úmido. Também em horas como estas, percebiam que a
língua havia sido abolida em favor de gestos e atos, altruístas e infelizes
implicitamente. Eles haviam nascido apenas para ocupar lugar, espaço e tempo ou
então viver tantos anos de vida. E isto era tudo." (Autobiografia de
Hermínia Maria, p. 179)
* * *
"(...) de
repente, sob a luz do fim do dia (entre violáceo e dourado) uma pessoa descobre
no outono de Vitória que não existe passado, presente, futuro, outono,
primavera. De repente, uma pessoa descobre que é eterna e que — portanto —
aceitasse morrer sem constrangimento ou revoltas. De repente, uma pessoa
aceita, de olhos fundos e secos. E esta será sempre a expressão que apresentará
às exigências, acusações, crueldades e impasses de sua vida: o profundo espanto
pelo fato de encontrar-se vivo para sempre." (A passagem do século, p. 58)
Bibliografias
GOMES, Deny. Morro do Moreno: Amylton de
Almeida. Disponível em: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/amylton-de-almeida-por-deny-gomes.html.
Acesso em: 27 dez. 2019.
NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimento de 90
cineastas. São Paulo, Editora 34, 2002.
SEIDEL, Mônica. Cena Vitória: Amylton de
Almeida. Disponível em: http://cenavitoria.blogspot.com/p/e-por-falar-em-saudade.html.
Acesso em: 27 dez. 2019.