Ignácio Gonçalves Lamas

Ignácio Gonçalves Lamas (meu trisavô paterno) nasceu por volta de 1835, provavelmente em São José do Xopotó, MG (Atual cidade de Alto Rio Doce, Zona da Mata Mineira). Casou-se em primeiras núpcias, com Querubina Maria de Jesus, em Minas Gerais e em segundas núpcias com Amélia Augusta da Fonseca, em 1872, também em Minas Gerais. Com a primeira esposa Ignácio teve três filhos: Antônio Gonçalves Lamas Primo ou Sobrinho (casado com Rosalina Laudelina Rodrigues de Jesus); José Gonçalves Lamas (casado em primeiras núpcias com Alberta Honorata Ribeiro e em segundas núpcias com Albertina Lamas) e Maria Querubina Lamas, minha bisavó (casada com o meu bisavô, Luiz Machado Braga). Com a segunda esposa, Amélia Augusta, Ignácio teve mais oito filhos: Maria Augusta da Fonseca Lamas; Francisco da Fonseca Lamas (casado com Francisca Ribeiro Soares); Idolino da Fonseca Lamas (casado com Maria Luiza Gomes); Margarida da Fonseca Lamas (casada com João Francisco D’Ávila); José da Fonseca Lamas; Jonas da Fonseca Lamas e Ignácio da Fonseca Lamas
Ignácio viveu parte de sua vida na região do Pomba, Mercês, Descoberto e São José do Xopotó, na Zona da Mata Mineira, onde seus parentes viviam. Em 24 de setembro de 1853, foi padrinho de batismo, na Paróquia de N. S. das Mercês do Pomba, do filho de José Antonio Dias d’Oliveira e sua mulher Dona Rita Maria da Conceição. No ano seguinte foi padrinho de batismo, na mesma paróquia, do filho de Antonio Francisco e Joaquina Barbosa de Souza.. Em 1856, também foi padrinho da filha de Mathias e Rita.[1,2,3] 
Em sessão realizada em 1º de julho de 1863, o Supremo Tribunal de Justiça faz menção a Ignácio Gonçalves Lamas no processo[4] cível nº 6.351, fazendo referência a certa “negativa de revista”, cujo teor integral do processo é desconhecido: Francisco Bento Fernandes e outros aparecem como recorrentes e Ignácio como recorrido. 
Ignácio foi 3º subdelegado de polícia do distrito de Descoberto, MG, com pedido de exoneração datado de 3 de maio de 1873[5]
Por volta do ano de 1875, Ignácio e sua família deixaram a então província de Minas Gerais, certamente motivados pela promessa de terras férteis e baratas no interior da então província do Espírito Santo. A família, composta por Ignácio, sua segunda esposa e filhos dos dois casamentos (alguns jovens e outros ainda crianças), estabeleceram-se às margens do Ribeirão Lagoa, no atual distrito de Serra Pelada, município de Afonso Cláudio, ES, antigo território do Guandu, acompanhado de outros conterrâneos[6]. Stela Haddad de Souza[7] informa que “em 1870, aproximadamente, chegou ao solo guanduense, o cidadão Sabino Coimbra de Oliveira acompanhado de seus familiares. Entusiasmado com a fertilidade da terra, adquiriu alguns alqueires às margens do córrego Três Pontões, onde se estabeleceu. Seguiram-no várias famílias mineiras, radicando-se às margens do Ribeirão Lagoa, hoje distrito de Serra Pelada. Eram seus chefes: Jorge Guilherme Gomes, Ignácio Gonçalves Lamas, José Manoel Ribeiro e outros.” 
Ignácio teve participação ativa na vida política de Afonso Cláudio, liderando e trabalhando em prol do progresso da comunidade. 
Em 20 de outubro de 1881[8], Ignácio Lamas foi convocado pela Tesouraria da Fazenda, do governo provincial do Espírito Santo, a comparecer perante àquele órgão para efetuar a compra do terreno cuja medição havia sido solicitada
Em 1883, com a saída do alferes Antonio Nunes de Salles, do cargo de delegado de polícia do Guandu, retirando-se para Vitória, Sabino Coimbra de Oliveira, subdelegado até então, foi nomeado como delegado, com Ignácio Lamas como 1º suplente[9]
Em 1886, Ignácio ocupava o posto de subdelegado[10] do distrito policial do Alto Guandu, com Alexandre Abreu Alvim como primeiro suplente e Epiphanio Rodrigues Pimenta como segundo suplente. 
Segundo o IBGE, em 1885, Eugênio Silva, Sabino Coimbra de Oliveira, Inácio Gonçalves Lamas, Jorge Guilherme Gomes e outros lançaram os fundamentos da povoação idealizada, a que deram o nome de “São Sebastião do Alto Guandu de Cima”, mais tarde o nome da localidade seria mudado para “Afonso Cláudio”, uma homenagem ao primeiro presidente da Província do Espírito Santo. Ainda de acordo com o IBGE, os primeiros caminhos de tropa que viriam incrementar o desenvolvimento da localidade do Guandu, fazendo a ligação com as localidades vizinhas, foram construídos por Ignácio Lamas, com o auxílio de indígenas, os botocudos. 
Em 22 de fevereiro de 1886, Ignácio Lamas, Manoel Bazílio de Souza, Sabino Coimbra de Oliveira, capitão Lúcio José da Fonseca e Julião Floriano do Espírito Santo, foram nomeados pelo governo provincial do Espírito Santo, para tratarem dos melhoramentos da estrada que ligava o Alto Guandu a Cachoeiro de Santa Leopoldina[11]
Em 15 de setembro de 1886, o jornal O Espírito-Santense[12], publicou o requerimento nº 521, de 6 de setembro de 1886, de “Ignácio Gonçalves Lamas, e outros, pedindo a criação de uma escola no distrito de Alto Guandu.” 
Em 19 de setembro de 1886, o então Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, fez a primeira visita de um líder eclesiástico a Afonso Cláudio e fez a benção do sino da igreja de São Sebastião que seria edificada. O padrinhos da cerimônia foram Ignácio Lamas e sua esposa, Amélia Augusta da Fonseca, a quem o bispo faz elogios, cujo relato do religioso é dado a seguir: “Hoje de tarde fiz a sagração do sino, o único do lugar; é grandezinho e tem no bojo a inscrição que diz ser ele oferecido ao Mártir São Sebastião do Alto Guandu, e ter sido premiado na Exposição Nacional do Rio de Janeiro. O Sr. Lamas e senhora foram convidados para o que se chamam Padrinhos. Esta senhora que é briosa e de gosto, enfeitou o sino com duas bonitas cintas vistosamente enfeitadas além das flores no gancho, e pelos cavaletes que aguentavam o sino, e pelo chão. É o sino que vi mais bem enfeitado, e a cerimônia embora quase toda rezada ou lida agradou-me. Muita gente assistiu. No fim cantei as últimas orações e o Pe. Alves cantou o Evangelho, e os padrinhos mandaram soltar foguetes”.[13]  
Em 1889[14], Ignácio era o primeiro suplente de subdelegado do Alto Guandu, que tinha como subdelegado Ramiro de Barros. 
No início da década de 1890[15], o movimento republicano ganhava força no interior capixaba e em Afonso Cláudio, o seu maior expoente era o coronel Ramiro de Barros Conceição, “que conseguira várias adesões ao movimento, entre eles os cidadãos Ignácio Gonçalves Lamas, Sabino Coimbra de Oliveira, Antonio Cândido de Almeida Rosa, Adolpho Rodrigues Gomes, Eugênio Pereira da Silva, Guilherme Gomes, e outros”. 
Ainda em 1890[16], Ignácio foi nomeado para o cargo de juiz de paz da “Villa Affonso Cláudio”, tornando sem efeito a nomeação anterior de Ramiro de Barros Conceição para o mesmo cargo. 
Em 1892[17], foi nomeado capitão ajudante do 6º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional no Espírito Santo, que também tinha João Francisco Machado Braga, também meu trisavô, no mesmo batalhão com a patente de tenente quartel-mestre. 
Vieira, já citado anteriormente, afirma que “a criação do município (Afonso Cláudio, em 20 de janeiro de 1891) se deve aos republicanos afonso-claudenses Ignácio Gonçalves Lamas, Sabino Coimbra de Oliveira, Antônio Cândido de Almeida Rosa, Adolfo Rodrigues Gomes, Eugênio Pereira da Silva, Guilherme Gomes, Ramiro de Barros Conceição, entre outros, sobre os quais repousam as glórias da propaganda da república no Alto Guandu, o que acabou influenciando a emancipação”.
Em 24 de junho de 1892[18], Ignácio foi designado para uma comissão local (que tinha como integrantes além de Ignácio: Ramiro de Barros Conceição e Antonio Cândido de Almeida Rosa), encarregada de agenciar produtos representativos do Estado do Espírito Santo que figurariam na Exposição Universal do Chicago
Em Vieira, já citado, Ignácio aparece relacionado no alistamento eleitoral de 1894, como eleitor da “1ª secção do districto da Villa de Affonso Claudio”. 
No dia 15 de novembro de 1894[19], na vila Afonso Cláudio, deu-se uma reunião para destituir o Sr. Ramiro de Barros Conceição da direção do Partido Construtor de Afonso Cláudio e constituir nova direção. Intrigas entre as principais lideranças municipais e descontentamento com o governo de Ramiro levaram à decisão. Foram escolhidos pelos membros do partido os correligionários Sabino Coimbra de Oliveira, Ignácio Gonçalves Lamas e Antonio Cândido de Almeida Rosa para a direção do Partido Construtor, em substituição a Ramiro de Barros,
Em 1895, Ignácio e Antonio Cândido de Almeida Rosa (importante personagem guanduense) foram transferidos do 6º para o 5º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, como mostrado na transcrição a seguir: “Foram agregados ao estado do 5° Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca da Cachoeiro de Santa Leopoldina, no estado do Espírito Santo, o major fiscal e o capitão ajudante do 6° batalhão da mesma arma da comarca do Guandu, no referido estado; Antonio Cândido de Almeida Rosa e Ignácio Gonçalves Lamas[20]. 
Ignácio teve pelo menos mais um parente que tentou se estabelecer no Guandu. Em 16 de julho de 1887, o jornal O Espírito-Santense[21], publicou a seguinte nota, comunicando à inspetoria especial das terras e colonização, para seu conhecimento, que "foram indeferidos os requerimentos informados pela mesma inspetoria, no qual pediu Maximiano Gonçalves Lamas (irmão de Ignácio Lamas), reconsideração do despacho de uma pretensão relativa à compra 10.220.000 metros quadrados de terras devolutas no Alto Guandu." 
Depois de anos dedicados à sua família e ao povo do Guandu, Ignácio faleceu, no ano de 1900, em Afonso Cláudio, ES.


Por Adilson Braga Fontes
Contato:abrafo@gmail.com




Bibliografias

[1] Igreja Católica. Paróquia Nossa Senhora das Mercês. Mercês do Pomba, 1853. f.235.
[2] Igreja Católica. Paróquia Nossa Senhora das Mercês. Mercês do Pomba. 1854. f.264.
[3] Igreja Católica. Paróquia Nossa Senhora das Mercês. Mercês do Pomba. 1856. f.317.
[4] Diário Official do Império do Brasil. Anno de 1863, Quarta Feira, 1º de julho, Numero 145.
[5] Diário de Minas. Ouro Preto. 3 de setembro de 1874. Ano II, nº 312, p. 2.
[6] INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro : IBGE, 1954. Vol.?. p.19.
[7] SOUZA, Stella Haddad de. Buscando a tradição de um povo. Afonso Cláudio : da Autora, 1993. P.125.
[8] O Horisonte. Victória, 8 de novembro de 1881. Ano ?, nº 79, p.4.
[9] O Horisonte. Victória, 31 de julho de 1883. Ano IV, nº 82, p.2.
[10] SILVEIRA, Godofredo da. Almanak administrativo, mercantil, industrial e agrícola da província do Espírito Santo. Vitória: [s.n], 1986. P.198.
[11] RODRIGUES, Antonio Joaquim. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Espírito Santo em 5 de outubro de 1886. Vitória: Typographia do Espirito-santense, 1886. P.43.
[12] DAEMON, Bazílio Carvalho (redator). O Espírito-Santense. Victória, 1886. Anno XVI, nº 74. P.2,
[13] LACERDA, Pedro Maria de. Apontamentos da Visita Episcopal de 1886 na Província do Espírito Santo: 24 de julho de 1886 a 28 de março de 1887. v.3. p.87.
[14] SILVEIRA, Godofredo da. Almanak administrativo, mercantil, industrial e agrícola da província do Espírito Santo. Vitória: [s.n], 1989. P.114.
[15] VIEIRA, José Eugênio. Afonso Cláudio: cronologia de sua história política, administrativa e cultural: 1850 a 2009. Vitória : Santo Antonio, 2009. P.34, 83, 93, 513, 515 e 518.
[16] FREIRE, Moniz; NUNES, Cleto (redatores). O Estado do Espírito Santo. Victória, 18 de dezembro de 1890. Anno IX, nº 2393.
[17] BRASIL. Diário Oficial da União. Nº 203, 28-jul-1892.
[18] FREIRE, Moniz; NUNES, Cleto (redatores). O Estado do Espírito Santo. Victória, 1º de julho de 1892. Anno XI, nº 2779.
[19] Commércio do Espírito Santo. Vitória, 21-23 jan. 1895, ano X, n. 21-23, p. 2.
[20] BRASIL. Diário Oficial da União. Seção 1, 12-jul-1895. P.2.
[21] DAEMON, Bazílio Carvalho (redator). O Espírito-Santense. Victória. Anno XVII, nº 57. p.2.

Um comentário:

  1. Sou Jaqueline Gonçalves Lamas neta de Brasilino Gonçalves Lamas nasceu em 1904 na região de Rio Pomba, nunca teve o nome do pai em nenhum documento, a minha avó Maria Raimunda de Jesus, se alguém puder me ajudar, não tenho interesse em bens materiais, sou Enfermeira e gostaria muito de saber minhas origens, tenho orgulho do meu sobrenome, tem bordado em todos os meus jalecos 31985066145, aguardo notícias, pago o DNA, tenho minha casa, saúde e só quero preencher esse vazio, essa lacuna.
    Obrigada 💕

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