Augusta Lamas D'Ávila

Augusta Lamas D’Ávila (Professora) – Nascida em 23 de março de 1898, em Afonso Cláudio e falecida em 1985, sem ter se casado. É filha de João Francisco D’Ávila e Margarida da Fonseca Lamas. Augusta é neta materna de Ignácio Gonçalves Lamas, um dos meus trisavôs paternos. 

Graduou-se normalista pelo Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Vitória, em 1919. Seu diploma foi assinado pelo então delegado literário de Afonso Cláudio, padre Carlos José Ernesto Leduc, em fevereiro de 1920[1].

Augusta foi uma prestigiada professora de Afonso Cláudio, também foi diretora de escola. Em homenagem a sua contribuição a educação do município, uma histórica escola localizada no centro da cidade foi rebatizada com o seu nome. 

Sobre Augusta, sua ilustre ex-aluna, Stella Haddad de Souza[2] disse: “Aulas, recreio, aulas. Dona Augusta dava conta das quatro séries. Planejava com inteligência o programa escolar, ministrando-o com devida eficiência.”

Abaixo segue um de seus discursos[3], proferido por ocasião da comemoração do Quarto Centenário da Colonização do Espírito Santo, em 1935, em solenidade na cidade de Afonso Cláudio:

“Exmas. Senhoras:
Meus senhores:
Digníssimo diretor deste grupo escolar:
Minhas colegas e diletos escolares:

Neste momento de tanto entusiasmo, de tanto esplendor cívico, de que maneira posso me considerar aqui, para usar de minha palavra? Fazendo apenas o papel de uma pequeníssima chama que bruxoleia (brilha). Sim, digo cheia de convicção interior, porque dentre todas que laboram nesse educandário, reconheço que em mim é predominante o mais enfadonho laconismo e por isso mesmo, não posso me estender e nem colorir frases que me empolguem a linguagem tornando-a agradável aos inteligentes e cultos dentre os que me ouvem. Farei apenas um ligeiro traço histórico da nossa ‘terra’.
Ei-lo: ‘Em 23 de maio de 1535! Outrora.’
‘Hoje, 23 de maio de 1935!’ Completam quatrocentos anos, quatro séculos ou o quarto centenário crianças, que nossa terra recebeu pela vez primeira, homens civilizados que vieram para trabalhar e começar a desenvolver o progresso de que hoje fluímos na arena da civilização que tende cada vez mais avançar se não houver descuidos dos governos e falta de vontade nossa.
‘Espírito Santo! Nome sublime enviado pelo Eterno das regiões do Empyrio!’. Era o dia 23 de maio de 1535, um domingo do Espírito Santo.
E o Espírito Santo tinha esse lindo nome? Não. Até essa data estava apagado da luz da história, porque de norte a sul, de leste a oeste era o nosso território coberto de espessas selvas habitadas pelos animais da fauna e pelas hordas de bugres que dominavam a ditosa ‘Canaã’ primorosamente descrita num romance ‘Letras pátrias’ pelo buril (arte) do saudoso amigo das “cousas brasileiras” – Graça Aranha.
E essas tribos que dominavam o nosso território eram três principais como tendes ouvido falar em aula: do norte eram senhores os tupiniquins; dominavam o centro para o oeste, os aimorés ou botocudos; e o sul, nos lugares planos habitavam os goytacazes.
Pois bem, ao chegar o primeiro colonizador, Vasco Fernandes Coutinho, vendo a formosa enseada do Espírito Santo ao pé do monte de Nossa Senhora da Penha, ordenou aos seus pilotos para que ancorassem ali, onde iria fundar a capital de sua colônia. Na praia, defendendo o solo querido, estavam os ferozes aimorés de arcos e flechas opondo-se ao desembarque dos primeiros colonizadores. Houve luta violenta que terminou com a vitória dos portugueses e Coutinho com os três fidalgos D. Simão de Castello Branco, D. Jorge de Menezes e Duarte Lemos e uns sessenta companheiros, desembarcaram fundando a primeira cidade do estado, que é a tradicional Vila Velha, hoje cidade do Espírito Santo.
Nos primeiros tempos da colonização, nossa terra pouco ou nada desenvolveu e a ferocidade dos botocudos esteve quase reduzindo-a ao seu domínio se os habitantes de Vila Nova (antigo nome de nossa capital) não tivessem conseguido vitória completa sobre esses selvagens desbaratando grande parte das suas hordas e escaramuçando-os para as brenhas.
Começou o nosso Espírito Santo a desenvolver no governo de Vasco Fernandes Coutinho Filho que fez uma administração fecunda: amparou e fez prosperar as lavouras; desenvolveu os núcleos populosos; retalhou o nosso território em sesmarias; permitiu que os bandeirantes percorressem os nossos sertões. E foi assim que em 1573 Sebastião Fernandes Tourinho, que veio de Porto Seguro na Bahia com muitos outros aventureiros, navegou pelo Rio Doce acima encontrando pedras de valor – turmalinas, esmeraldas e safiras; e no mesmo ano Antonio Dias Adorno com cento e cinquenta bandeirantes portugueses e quatrocentos selvagens renova a proeza de Tourinho e volta cheio de pedras preciosas; depois Diogo Martins Cão, o “Matante Negro” também percorre a terra, atrás de jazidas de ouro, rubis e esmeraldas e, já morto Coutinho Filho, em 1612 Marcos Azeredo torna a subir o Rio Doce, em busca de nossas matas, e na sua das minas. E aí fez o primeiro mapa da capitania indicando os lugares das minas. E daí continua a progredir o nosso torrão idolatrado.
Os jesuítas já haviam fundado povoações e prosseguiam no ardor da luta, catequizando o gentio. Aventureiros de outras partes rompem florestas e fundam outros lugares como a nossa Afonso Cláudio, que assim foi começada. E em todo movimento de atividade política e social desde os tempos mais remotos podemos nos orgulhar de que nosso estado não esteve e não está na retaguarda de muitos da união. Assim é que, quando no país inteiro os espíritos generosos ardiam no desejo da abolição da escravatura, e fundavam associação de caráter abolicionista o Espírito Santo também fundou seus clubes que defenderam abrasadamente a causa da liberdade; e nos dias da república, não permaneceu impassível pela nova causa. E o Espírito Santo, embora pequenino em território, só excedendo a Sergipe entre os estados da república, é gigante no sentir do seu povo laborioso que em futuro não muito além, o colocará na vanguarda de uma civilização deslumbradora, porque a mão do Criador parece haver concentrado tudo quanto é favor e riqueza nesse retalho de solo abençoado.
Olhai para essas matas que circundam a nossa cidade, crianças, e lembrem-se de que só em madeiras preciosas, possuímos em nosso estado, uma fortuna respeitável, talvez superior a algumas centenas de milhões de contos sem falarmos em outras [ilegível] que brotarão da terra pelo esforço de todos os patriotas que trabalharem regando-a com o suor dos seus rostos.
Estudai carinhosamente a nossa história espírito-santense para melhor conhecerdes o nosso rincão a fim de poder amá-lo e pelejar pela sua glória.

Salve a memória de todos os patriotas que lutaram para erguer o Espírito Santo no altar da pátria!...”


Por Adilson Braga Fontes
Contato:abrafo@gmail.com



Bibliografias

[1] Diário da Manhã. Vitória, 15 de fevereiro de 1920. Ano XIV, nº 155, p. 1.
[2] SOUZA, Stella Haddad de. Buscando a tradição de um povo. 2.ed. Afonso Cláudio : da Autora, 2009. P.112.
[3] FONTES, Adilson Braga. Notícias de Afonso Cláudio: a história de Afonso Cláudio contada pelos jornais - 1881-1949. Campinas : Agbook, 2014. P. 315.

2 comentários:

  1. Muito interessante essa história, e ao mesmo tempo, muito útil para pesquisas escolares dos nossos filhos. Parabéns e obgada por compartilhar conosco.

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    1. Graça,

      Esta e outras histórias podem ser facilmente acessadas em meu livro: "FONTES, Adilson Braga. Notícias de Afonso Cláudio: a história de Afonso Cláudio contada pelos jornais - 1881-1949. Campinas : Agbook, 2014." - Disponível em: http://www.anhanguera.com/bibliotecas/biblioteca-virtual/pagina/obras-literarias

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